Fui criada no meio de homens. Sei muito bem como
funcionam as coisas. Todas elas. Cresci convivendo com irmãos homens, primos
homens e os amigos deles. Homens.
Aprendi a falar palavrão, a colocar
apelidos estranhos nas pessoas, a trocar pneu de carro e pra que serve a
correia do alternador.
Aprendi que homens são
seres determinados e, quando querem alguma coisa, vão atrás. Seja ela
o que for.
Aprendi a não levar desaforo pra
casa, a não deixar as pessoas fazerem hora com a minha cara e a me defender
sozinha.
Aprendi que eu sempre vou perder na
queda de braço, ainda que seja contra um adolescente de 16 anos de idade. E que
homens sempre terão força capaz de machucar qualquer mulher. E, exatamente
por isso, não devem usá-la jamais. Aprendi que, mesmo sem usar nenhum músculo
do corpo, eles são capazes de machucar uma mulher. E que palavras, muitas vezes,
machucam mais do que qualquer força física.
Aprendi que nós, mulheres, não temos
tanta força física, mas temos uma força interior que nos guia. Que é capaz de
nos mostrar uma grande enrascada antes de nos metermos nela. E que isso a gente
chama de sexto sentido.
Aprendi que nós, mulheres, fazemos um
esforço danado pra sermos fofas. Porque é isso que a sociedade espera da gente.
Mas que nós podemos matar um leão por dia (só que a gente não mata porque
gosta de bicho). Somos fofas.
Aprendi que, mesmo que não precisemos
dos homens pra nos defender, nós queremos que eles nos defendam. Que nós
sabemos pegar o boi pelo chifre, mas que esperamos que alguém faça isso por
nós. Que esperamos apoio, lealdade e um pouco de boa vontade.
Aprendi, convivendo com os homens, a
ser mulher. A ser eu mesma. A exigir respeito. A respeitar as diferenças. A
acreditar no possível. A usar minha força interior. A não medir forças. A não
medir esforços pra conseguir o que quero. A desconfiar do destino. A saber a
hora de acelerar e a hora de tirar o pé. A olhar pelo retrovisor mas dirigir a
vida com a cabeça pra frente. O que eu aprendi com os homens me tornou a mulher
que sou hoje.