Ele vai se casar. Ele vai se casar daqui duas semanas apesar de a gente ter se encontrado secretamente ontem à noite. Ele vai se casar porque agora ele é um homem importante e precisa ser um homem casado pra mostrar que amadureceu. Ele vai se casar ignorando todas as vezes que ele me encosta e o corpo dele se arrepia. Ele vai se casar ignorando o fato de que a vontade que ele tem de me encontrar não vai acabar no dia seguinte do casamento dele. Ele vai se casar e a gente só não vai se encontrar mais porque me recuso a me encontrar secretamente com homem casado. Ele vai se casar e vai receber mensagens de texto no celular como essa que acabei de ouvir agora “amor, não esqueça o arroz”. Ele vai se casar e todo o arroz que vão jogar nos noivos vai simbolizar o tanto de vezes que a noiva dele vai ser traída. Ele vai se casar e a minha vida vai continuar sem ele porque sempre foi assim. Ele vai se casar e provavelmente este será o último texto que fala sobre ele na minha vida (eu poderia escrever vários outros sobre o quão tediosa e previsível a vida dele vai ser daqui pra frente mas prefiro me abster). Ele vai se casar e tudo que eu pensava sobre o amor vai por água abaixo assim como nossos encontros secretos. Ele vai se casar e vou começar a acreditar que todas as pessoas estão condenadas a se casarem com outras pra terem relacionamentos estáveis (que eu chamo de mornos). Ele vai se casar e me fazer acreditar que todas as paixões arrebatadoras estão condenadas ao fracasso. Ele vai se casar e todas as chances de a gente se ver de novo vão escorrer pelo ralo daqui duas semanas.
Ele vai se casar e, sinceramente, não estou arrasada. Acho digno que esse tipo de pessoa saia mesmo da minha vida pra sempre. Não compartilho desse pensamento retrógrado de se casar por conveniência. Ele vai se casar e a coitada da noiva vai continuar sendo traída. E talvez ela finja que não sabe por conveniência também. Talvez ela finja que não sabe que ele é assim pra não ter que desmarcar o casamento. Talvez ela saiba e não queira saber. Um finge que engana e o outro finge que acredita. Talvez seja boa a vida assim. Mas não pra mim.
A minha vida vai continuar. E a dele também. E as chances de o mundo parar pra gente de novo vão se perder. E todo o vinho, o suor, a paixão do mundo, não vão nos pertencer mais. Vou continuar buscando ele em outros corpos. Em outros copos. Em outras noites divertidas com vinho. E ele vai continuar me buscando nela. E eu não vou estar lá. Não vou estar lá pra presenciar esse maldito casamento de fachada. Não quero ser testemunha de uma farsa. Não nasci pra me casar com alguém pra fazer bonito pros outros. Pra gastar com festas caríssimas que depois vão virar dias tediosos ao lado de uma pessoa tediosa.
Ele vai se casar e este texto não é um protesto contra isso, nem uma tentativa de fazê-lo desistir. Porque não há mais volta. Meu reinado chegou ao fim. Apesar de eu ter chegado muito antes dela, não há qualquer sentimento de ter perdido alguém que poderia passar a vida comigo (nem tudo que se perde tem valor, já diz uma música brega que ouvi). Esse texto é só pra dizer que, de uma certa forma, estou feliz que ele vai se casar. Estou mais feliz ainda porque ele vai se casar e não é comigo. Porque eu não tenho a mínima vocação pra ser corna.
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Este blog é uma obra de ficção. Todos os textos publicados aqui são fruto da minha imaginação fértil. Ou não.
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