23 dezembro 2007

SOBRE ESPERANÇAS E EXPERIÊNCIAS


Nunca gostei de fazer promessas de ano novo. Nunca cumpro nada do que prometo no começo de cada ano e acabo me frustrando. Um arraso. Antigamente, eu fazia uma lista de coisas. Que só serviam, é claro, pra eu perceber o tanto de coisas que gostaria de ter feito e não fiz. Agora, com mais um ano chegando ao fim, resolvi fazer uma não-promessa. Acho que essa vai ser mais fácil de cumprir. Explico: menos expectativas. É isso. Minha promessa de ano novo é esperar menos, ser menos exigente. Comigo e com os outros. Descobri que as pessoas exigentes demais são as que se frustram na mesma proporção. Quanto mais a gente espera dos outros, mais a gente continua esperando.

Espero tirar nota dez e me frustro com o nove. Espero contar com todos os meus amigos sempre que precisar e me frustro com as desculpas esfarrapadas que eles dão pra me deixar na mão. Espero que eu seja magra, linda, loira e sarada e me frustro se tenho vontade de fazer nada, comer só porcaria e ficar o mês inteiro sem malhar. Espero que minha pele seja igual eu faço ela ficar no photoshop e me frustro cada vez que vou ao dermatologista e ele não me deixa tomar sol no rosto.

Aquela história de “quanto mais alto o coqueiro, maior o tombo” é bem verdade. A gente sonha demais, espera demais, quer demais. E o que a gente encontra são pessoas normais, peles normais, barrigas de chope, banhas laterais, cabelos desgrenhados. Gente que tira meleca do nariz – do próprio e dos outros. Gente que amarra o cabelo com a calcinha amarela no terceiro encontro. Gente que tem micose na unha do pé.

Bons tempos aqueles que eu assistia a Xuxa cantar Lua de Cristal e acreditava que o mundo poderia ser melhor se eu fosse uma pessoa melhor. Que todos os meus sonhos iam se realizar só porque eu queria. Que todas as pessoas do mundo eram loiras, lindas, lisas e paquitas. Que o mundo era um arco-íris. Hoje, eu sei que arco-íris é apenas a bandeira gay, que algumas paquitas viraram mulheres de reputação duvidosa (o Word não quer reconhecer o nome que escrevi aqui) e a Xuxa virou uma chata que colocou no mundo mais uma menina mimada, dando exemplos modernos com sua produção independente.

De verdade, queria escrever um texto cheio de esperanças e promessas para o ano novo. Mas todo ano que passa, acredito mais na experiência do que na esperança. Então, desta vez, vou fazer uma promessa diferente. Vou esperar menos. Vou esperar o beijo de boa noite ao invés do eu te amo. Vou esperar o carinho ao invés das palavras bonitas. Vou esperar o som, o sorriso, o gesto. Vou esperar a sinceridade, a simplicidade. Vou esperar menos do que eu posso dar. Vou esperar a companhia sincera de poucos amigos. Vou esperar o final de semana ao invés de querer o pra sempre. Vou acreditar que o “pra sempre sempre acaba”. Vou assistir menos filmes com Leonardo DiCaprio. Ouvir menos música sertaneja. Vou ser menos romântica - no sentido literal da palavra. Vou parar de esperar que todos os filmes tenham finais felizes. Que nossos bichos de estimação vivam pra sempre. Vou parar de esperar. Minha promessa de ano novo é bem simples: não me prometo mais nada.

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Amores, um Natal lindo pra todos e um 2008 cheio de sucesso!
Beijos