24 agosto 2007

AMOR E ORIGAMI

Isso não é um poema. Nunca soube fazer poesia. Escrevo assim mesmo. Reto. Com minhas idéias tortas. Magôo as pessoas com palavras mal-ditas. Duvido do seu amor por mim e te testo o tempo inteiro. É o que você me diz. É o que eu faço sem perceber porque me acostumei a não acreditar nas pessoas. Você move o mundo, sacode nas curvas dessa estrada tonta enquanto eu me recuso a te dar qualquer garantia.

Você me fotografa a cada movimento com seu celular de não-sei-quantos mega pixels e acha lindo até meu nariz torto. Você tem ciúme dos meus amigos da academia que me vêem com roupas minúsculas, dos meus amigos que saem comigo pra balada - e também me vêem com roupas minúsculas - e do veterinário do meu passarinho, que não sabe nem que roupa eu uso. Eu te bloqueio no MSN, desligo o celular pra não te atender e esqueço de passar o perfume que você gosta em mim. Você faz planos pra gente ficar junto pra sempre, enquanto eu estudo a hora que o sol bate no meu prédio no inverno. Você quer casar e ter filhos, eu quero dormir sozinha na minha cama queen e ter uma casa com uma girafa, uma onça e 379 pássaros. Soltos. Você quer me segurar. Eu quero ser solta.

Você escreve melhor que eu, e eu reclamo das suas palavras. Eu peço pra você tirar a barba numa semana e digo que não gosto da sua cara lisa. Você me alisa. Eu te analiso. Você sua pra eu ser sua. Você se esforça. Você vem atrás. Você tenta. Eu implico.

Eu faço leilão comigo mesma pra ver se você dá mais. Eu me coloquei à venda pra ver quanto eu valho pra você. Pra descobrir depois desse tempo todo que eu valho suas noites de sono. Eu compenso a distância. Por mim, você chora, viaja, muda de vida, larga o emprego, muda de rumo, troca de cidade.

Por mim, não precisa fazer nada disso. Acabou o choro, a gente vai ser só riso. Chega de viagem, eu to indo ficar com você. Não precisa mudar de vida, eu mudo com você. Eu mudo e vou continuar sendo a mesma chatinha que você ama. A chatinha tatuada. A sua chatinha. A chatinha que tinha um coração aposentado porque apanhava mais do que batia. A chatura infinita que você dobrou, amoleceu e arrancou de dentro dela uma cidadã que ela não lembrava mais que existia. E agora, não quero esquecer mais um segundo. E se eu esquecer, tenho você pra me lembrar. Tenho você com esse nariz lindo pra me lembrar que eu odeio o meu. Tenho seus textos perfeitos que me deixam sem palavras e me fazem querer apagar tudo que já escrevi. Tenho esse homem maduro do meu lado pra me lembrar que eu preciso ser uma pessoa melhor. Tenho você que conhece meus defeitos e só enxerga o meu melhor. Tenho você que me faz acreditar que não preciso de mais nada. Tenho você e isso me basta. Tenho você e, agora, você me tem.

23 agosto 2007

A ALMA MURCHA E OUTROS SINTOMAS

Mais uma balada e você lá. Alma aberta, coração vazio, copo cheio. O cidadão lindo, cheiroso e sarado do seu lado puxa papo e, você que não tá fazendo nada mesmo, começa uma interação. É “como você se chama?” daqui, “o que você faz da vida?” dali, “quantos anos você tem?” de lá... o currículo inicial básico. Depois de algum tempo, o módulo básico pula pro avançado. E a noite termina no avançado plus com direito a upgrade no dia seguinte. Perfeito.

No começo, tudo é lindo. Ninguém tem defeito. Todo mundo jura fidelidade e amor eterno. No terceiro mês, você desconfia porque a vizinha do quarto andar liga tanto pra ele, porque o futebol termina meia-noite, porque todo dia ele tem uma nova entrevista de emprego, porque ele sempre sai com algum amigo que você nunca ouviu falar antes. Por que tanta história estranha? É só coisa da sua cabeça? Você tá vendo coisa demais? Ou é só ciúme?

Você já não freqüenta as baladas que gostava. Mal sai com as amigas. Perdeu contato com seu amigos homens. Parou de correr às terças e quintas com seu vizinho. Deletou seus ex-namorados, rolos e ficantes do MSN. Excluiu seu orkut. Deletou números suspeitos do seu celular. Você cede, cede, cede. Até uma hora que a corda cede. Arrebenta.

Você cedeu tanto, sem perceber, que murchou. Secou feito uma flor no inverno. E agora espera a primavera da janela da sua casa, de onde, inclusive, você mal sai. É de casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Ele que te achava linda, mal te vê. Sua luz apagou. Foi-se o brilho junto com as noites de festa. A poesia virou drama. O avião virou ônibus. O amor se transformou num saco de lixo sem fundo onde vocês vão jogando todas as brigas.

Mas será que o amor é isso? Cadê aquele cidadão que te achava linda com o cabelo atrapalhado de manhã cedo? Cadê aquele cara que andava com o celular tirando foto de cada movimento que você fazia? Cadê aquele cara que fechava os olhos e sentia seu perfume no ar quando você usava Love Spell? Cadê aquele cara que disse que nunca ia te largar? Cadê aquele cara que viajou, que insistiu, que moveu o mundo pra ficar com você? E cadê você?

Você tá em algum canto. Largou sua vida de lado e foi viver a dele. Enquanto ele se divertia com os amigos, você enchia o saco dele com suas crises de ciúme. Enquanto ele ia pra festa, você ficava em casa queimando neurônios imaginando o que ele estaria aprontando. E quanto mais ele vivia, mais você esmoecia. Murcha como uma criança que acabou de descobrir que Papai Noel não existe. Que o amor, você nem sabe mesmo se ele existe. Que a confiança e o respeito às vezes valem mais do que juras de fidelidade eterna. Que não existe nada eterno. Que a gente nunca sabe até onde vai se a gente não pagar pra ver e for junto. Que vai até aonde a gente deixar ir. Que alguns caminhos não têm volta, mas têm várias saídas de emergência. Que a sua vida tem urgência e todo resto é bobagem. Que você nasce sozinho pra aprender a fazer escolhas sozinho. E que você só está acompanhado quando aprende a ficar sozinho.

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Não me canso de dizer que este blog não é um diário virtual e que os textos são obras de ficção. Obras na minha mente em construção. E para os curiosos de plantão, comunico que sim, tá tudo lindo!
Beijos e ótimo final de semana.

08 agosto 2007

MENTIRAS SINCERAS

“De vez em quando, nessa vida, a gente engole um caô... pra se arrumar, pra se arrumar, pra namorar, pra namorar, pra ser feliz, pra ser feliz, pra ter amor.”

Elba Ramalho estava certa. Na vida, a gente precisa engolir umas mentirinhas de vez em quando e fazer cara de paisagem. Pra se dar bem. Pra ser feliz. E até pra namorar.

Sempre fui metida à pessoa-mais-sincera-do-mundo e sempre me dei mal. Portanto, não aconselho ninguém a seguir meus passos. Minha mania insuportável de falar a verdade faz com que eu exija o mesmo tipo de atitude das pessoas. E aí, qualquer deslize é o suficiente pra eu mostrar o cartão vermelho. Falta grave. Não tolero mentira de espécie alguma. Se um dia eu perguntar pra uma amiga qual o caminho que ela faz pra chegar até minha casa e ela mentir, a amizade se encerra junto com a resposta dela.

As pessoas mentem basicamente por duas razões: pra protegerem a si mesmas ou pra protegerem alguém. "Eu já disse mil vezes que eu não fiquei com essa garota". E assim, cada um protege o seu como pode. "Olha, seu guarda... eu acabei de estacionar aqui... já ia colocar a faixa-azul". E o “seu guarda” já ouviu esse papo centenas de vezes! "Se você se comportar bem, Papai Noel vai trazer presentes pra você no Natal". E essa era sua mãe te ensinando, desde pequeno, a mentir pra conseguir o que quer.

E assim, homens e mulheres mentem. Seja pra proteger o relacionamento, seja pra tirar o próprio da reta. "Essa é a última cerveja e nós vamos embora". E você esperou por duas horas e intermináveis 48 minutos enquanto o bebum do seu namorado contava piadas sem graça e falava de futebol com os amigos. "Eu nem acho a Sandrinha bonita, você sabe que eu não gosto de mulher com silicone". E lá estava seu namorado hipnotizado quando a cidadã adentrou seu baile de formatura com um decote no melhor estilo mamãe-quero-dar-pra-festa-inteira.

Minha avó dizia que mentira tem perna curta. E eu digo mais: tem perna curta e tropeça. Quem mente tropeça em si mesmo. Tropeça nas palavras. Embola frases. Mistura idéias. Se confunde. Tenta confundir o outro. Engasga. Contradiz a si mesmo a cada três frases ditas. Os olhos piscam mais rápido que o normal e vagueiam sem foco. Quem mente, mais cedo ou mais tarde, acaba se entregando de alguma forma.

E eu, que já me dediquei a estudar sobre mentiras e pessoas que mentem, hoje, preferia mentir pra mim mesma e fingir que nada sei. Preferia acreditar que minha amiga está dizendo a verdade sobre meu cabelo novo. Preferia acreditar quando meu namorado diz que me acha a mulher mais linda do mundo. Preferia acreditar quando minha mãe fala que meu nariz não é torto e que eu nem sou tão baixa assim. Preferia acreditar que a amiga do meu namorado é só amiga mesmo. Preferia acreditar que existe amizade entre homem e mulher e que todos meus amigos gostam de mim só porque eu sou gente fina e não porque me acham sarada e gostosa. Preferia acreditar que as pessoas podem mudar. Preferia acreditar que o que passou é só passado. Preferia acreditar só pra namorar. Só pra ser feliz. Só pra ter amor.

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Queridos, mais uma vez, obrigada pelos comentários lindos, pelos emails infinitos, pelas pessoas fofas que estão na minha comunidade no orkut (quem fez foi a fofa da Lu e o link da comunidade tá aí do lado). Amo tudo isso!
Beijos.

Foto: Rafaela. Olhares.com