Da janela de seu apartamento, aquele cidadão observa todos os movimentos da vizinha do prédio da frente. Ele observa ela trocar de roupa. Lavar a varanda usando roupa de ginástica. Almoçar sozinha nos finais de semana. Passar a madrugada de calcinha na frente do computador. Assistir TV em alguns raros momentos. Conversar com seu passarinho. Tomar vinho. Receber os amigos. Ele sabe quando ela não está em casa. Sabe que horas ela chega do trabalho. Que horas sai pra academia. Sabe quando ela viaja. Sabe quando ela tem visita. Da janela do seu apartamento, ele acompanha tudo que acontece com aquela cidadã. E ela parece tão linda e loira. Tão meiga. Tão sexy. Ela parece uma menina que precisa de colo. E, ao mesmo tempo, uma mulher tão independente. E ela tem aquele cabelo dourado enorme. Aquela pele bronzeada. Aquele corpinho de passeio. Mas, ele nunca a viu de perto. Se um dia cruzar com ela na rua, é provável que não a reconheça. Porque, de perto, essa cidadã é muito diferente.
De perto, essa cidadã não é tão simples assim. De perto, ela é complicada. Mimada. Chata. Exigente. Temperamental. Egoísta. Vingativa. E, se ele a olhasse nos olhos, talvez ele nem achasse tanta graça nela assim. De perto, essa cidadã tem olheiras quando está cansada. Ela volta pra casa suada depois da academia. Ela fica com a raiz do cabelo por algum tempo sem retocar. Ela tem umas espinhas no rosto. Tem uma cicatriz perto do umbigo. Tem uma mancha no meio do peito. Ela inventa uma TPM pra justificar seu humor oscilante. Ela esquece de levar a roupa pra lavanderia. E ela odeia esquecer coisas. Ela odeia acordar cedo. Ela odeia que puxem seu saco. Odeia gente interesseira. E ela adora elogio. Adora um carinho sincero. Adora que a olhem nos olhos. Adora pessoas transparentes.
Se o tal cidadão conhecesse aquela vizinha, ele veria muito mais coisas do que ele vê de longe. Ele veria que, por trás daquela carinha feliz, se esconde uma menina. Insegura. Carente. Desconfiada. Vivida. Descrente. Que, por trás daquela cidadã bem resolvida, tem uma mulher que não sabe o que quer da vida. Que já teve seu coração dilacerado e agora procura os pedaços que sobraram por aí. Procura numa festa. Numa mesa de bar. Numa companhia agradável. Num telefonema no meio da tarde. Num convite pra passar a noite. Numa viagem de final de semana. Procura em lugares que ela não vai encontrar. Procura em lugares onde ela não vai encontrar nada além de pedaços soltos. Pedaços dela mesma que ela esqueceu de juntar. Pedaços de noites mal dormidas. De pessoas descartáveis. De festas com muito sorriso e pouca alegria. Com muita gente e pouco calor humano.
A vizinha que tira a roupa sem pudores e que não mostra a alma. Que adora mostrar o corpo mas não mostra o que vai lá dentro. Que adora quando elogiam sua barriga, mas que se desconcerta se elogiam seu caráter. Que conhece todas as quinhentas funções do seu telefone celular mas não consegue apertar um único botão e ligar pro cara de quem ela gosta. Que manda mensagens com fotos quando deveria mandar um convite pra sair. Mas isso, o tal vizinho não sabe. E, mesmo que eles morassem no mesmo prédio e freqüentassem a mesma piscina nos finais de semana, ele nunca saberia. Então, ele continua da janela do 901 observando a vizinha gostosa. Sem ter a mínima idéia do que se passa ou de quem ela é. E talvez ele nem queira saber. Pra ele, o que ele sabe é suficiente. Pra pessoas que não têm a mínima intenção de se envolver, é melhor que se olhem de longe mesmo. Assim, a vizinha continua linda e loira (e gostosa!) e ele continua sonhando com ela todas as noites.
De perto, essa cidadã não é tão simples assim. De perto, ela é complicada. Mimada. Chata. Exigente. Temperamental. Egoísta. Vingativa. E, se ele a olhasse nos olhos, talvez ele nem achasse tanta graça nela assim. De perto, essa cidadã tem olheiras quando está cansada. Ela volta pra casa suada depois da academia. Ela fica com a raiz do cabelo por algum tempo sem retocar. Ela tem umas espinhas no rosto. Tem uma cicatriz perto do umbigo. Tem uma mancha no meio do peito. Ela inventa uma TPM pra justificar seu humor oscilante. Ela esquece de levar a roupa pra lavanderia. E ela odeia esquecer coisas. Ela odeia acordar cedo. Ela odeia que puxem seu saco. Odeia gente interesseira. E ela adora elogio. Adora um carinho sincero. Adora que a olhem nos olhos. Adora pessoas transparentes.
Se o tal cidadão conhecesse aquela vizinha, ele veria muito mais coisas do que ele vê de longe. Ele veria que, por trás daquela carinha feliz, se esconde uma menina. Insegura. Carente. Desconfiada. Vivida. Descrente. Que, por trás daquela cidadã bem resolvida, tem uma mulher que não sabe o que quer da vida. Que já teve seu coração dilacerado e agora procura os pedaços que sobraram por aí. Procura numa festa. Numa mesa de bar. Numa companhia agradável. Num telefonema no meio da tarde. Num convite pra passar a noite. Numa viagem de final de semana. Procura em lugares que ela não vai encontrar. Procura em lugares onde ela não vai encontrar nada além de pedaços soltos. Pedaços dela mesma que ela esqueceu de juntar. Pedaços de noites mal dormidas. De pessoas descartáveis. De festas com muito sorriso e pouca alegria. Com muita gente e pouco calor humano.
A vizinha que tira a roupa sem pudores e que não mostra a alma. Que adora mostrar o corpo mas não mostra o que vai lá dentro. Que adora quando elogiam sua barriga, mas que se desconcerta se elogiam seu caráter. Que conhece todas as quinhentas funções do seu telefone celular mas não consegue apertar um único botão e ligar pro cara de quem ela gosta. Que manda mensagens com fotos quando deveria mandar um convite pra sair. Mas isso, o tal vizinho não sabe. E, mesmo que eles morassem no mesmo prédio e freqüentassem a mesma piscina nos finais de semana, ele nunca saberia. Então, ele continua da janela do 901 observando a vizinha gostosa. Sem ter a mínima idéia do que se passa ou de quem ela é. E talvez ele nem queira saber. Pra ele, o que ele sabe é suficiente. Pra pessoas que não têm a mínima intenção de se envolver, é melhor que se olhem de longe mesmo. Assim, a vizinha continua linda e loira (e gostosa!) e ele continua sonhando com ela todas as noites.
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P.S.: Queridos, o vizinho do 901 é fruto da minha imaginação. E quanto à cidadã, ela manda avisar que fecha a cortina quando está de calcinha na frente do computador. Rsrs
Beijos e boa semana.
39 comentários:
Adorei isso! Muito bom. Um pouco de tudo! Muito de tudo.
Beijos e ótima semana!
Vou me mudar hoje mesmo para Lourdes!!!! ... e comprar uma luneta para ver essa menina de pertinho.
Oi Brena, agora me "atrevo" a comentar...rsrs, acredito que o ideal é ser uma mistura do longe e perto...da fantasia e da realidade...do sonho e da hipotética ilusão...somos na verdade o longe e o perto...mas somente seres com alma grande enxergam o longe mesmo perto...e conseguem ver o perto sem ofuscar o longe...Beijos e uma ótima semana pra vc...
Ei vizinha... ops... ei Brena!
Huahuahuahuahua...
Nossa, "Pra pessoas que não têm a mínima intenção de se envolver, é melhor que se olhem de longe mesmo." Puts, amei isso!
Essa imaginação sua vale ouro. Não fique desconcertada, é a pura verdade!
Bjim*
HAHAHAHAH... o "...complicada. Mimada. Chata. Exigente. Temperamental. Egoísta. Vingativa." me lembrou alguém que não sei quem sou! HAHA Aliás, todo esse parágrafo ali eu me identifiquei!
Eitcha !!!Tava inspirada heim...Vai deixar os marmanjos que lêem seu blog doidos de curiosidade!!!
Dá-lhe sarada!
Vc tem que passar é isso mesmo, o que vc carrega dentro do seu coração, a mulher inteligente e cheia de qualidades, que por ironia do destino e sorte,é bonita, sarada e "gostosa" !
Beijos fofs!
ainda bem o fruto dessa sua imaginação funciona direitinho...
adorei do texto!!
bjoO
Dórote, sucesso!!! Adorei mesmo... Fiquei pensando assim: quem é esse vizinho? de onde ele surgiu gente? hahahahahaha...
Vc viu q eu abandonei o mundo dos blogs pra sempre né?
mentira, pra sempre não...
bjos cuts!
kakakak
Adorei Brena
Na verdade as vizinhas gostosas na grande maioria são todas assim!
E que imaginação fertilíssima a sua.
Está vazando pelo ladrão vizinhos do tipo do 901.
rs
Parabéns!
beijos
Beth
Sem sombra de duvidas é uma excelente estória ... dakelas bemmmm envolventes e que nos leva a imaginar mil coisas e ao mesmo tempo ficar sem entender nada ...
O fato é que só quem conhece a mancha no peito ... a cicatiz no umbigo e algo mais seria capaz de saber que é a vizinha gostosa .... confesso que tentei imaginar quem seria, mas fiquei meio assim, será que é quem eu to pensando? rs ..
Lora, adorei e a Bebeth adorou tbm ...
Virou fã de carteirinha ...
Bjokas
Aaaaaaaaaa bom rs
Agora com direito a Ps seus textos vão ficar mais esclarecedores kkk
Beijokas Bonita
eeeeiii ;)
achei seu blogger por acasooo.!
e acheii muuito manero o que vc escrevee.!
acheii tão verdadeiro e ao meesmo tempo muuito fodá.!
beeijo ;*
Ela fecha a cortina. Mas a webcam ficou ligada... Tchau e felicidades!
Oi Brena. Muito legal mesmo. Já fiquei pensando: puxa sera que ela e tao exibida (ou corajosa ?) assim??? eheheheh Ainda bem que vc esclareceu.
Guria, voyeurismo é algo que me instiga, mas concordo com vc, corpo é um corpo (compra a Playboy porra), pessoa é olho no olho, toque, cheiro... Feliz daquele que tem pessoas para olhar olho no olho... Saludos!
Nossa!Parabens!vc escreve mto bem!
Adorei tudo!
beijos
Brena, você á parente da Maria Augusta Braz?
Beijos
Vou te mandar um e-mail.
Amei a visita Brena.
Me senti honrada com sua presença.
Eu também tenho um flog onde posto meus "rabiscos".
Apareça por lá e será um prazer.
bebeth mãe do Otávio
sempre ótima
Brena
Ainda bem que o vizinho é fruto de sua imaginação. Esses caras costumam ser perigosos. Legal você assumir que "de longe" as aparencias são bem melhores do que somos na verdade. De perto todos somos "feios"!
Bjs
Esqueci de uma coisa que acho que já te disse. Você cria belas imagens!
Brena
Acho que me não me expressei bem. Me referi as imagens que você cria em seus textos. Mesmo quando são fictícios parecem de verdade!
Bjs
engraçado, moça... posso te mandar um texto que escrevi faz tempo? acho que é a mocinha da sua história vista mesmo pelo observador. beijo no céu da boca.
Isso traduziu um pouco de um incosciente que quer se manifestar e não pode, porque será reprimido pelas regras já ditadas...
Sei lá, foi o que me veio a cabeça.
Bjitos!
Belíssimo texto! De um bom gosto apurado, de uma inteligência refinada e de uma sutileza quase insuportável...
Concordo plenamente com o que escreve: de longe tudo fica mais fácil. Todos os seres são dóceis, todos os corpos sarados, todas as mentes sãs...difícil é encontrar alguém que esteja disposto a ver a "vizinha" fora da janela...complemente normal e destituída da magia que a distância cada dia mais acentua...
Há um poema (não me lembro de quem neste momento) que diz "te amar no retrato é muito mais fácil que quando você está por perto"... O retrato é a vizinha na janela: inerte e perfeitamente capaz de ser manipulada pelos nossos sonhos e desejos...
Um grande abraço
Adorei aqui tbem viu... bjs
Como assim não comento! Você é que não vê meus comentários perdidos no meio de tantos outros...
Eu acho que existem muitas vizinhas como essa. Loiras, morenas, ruivas, gostosas ou não, perdidas Brasil a fora. Eu não sei como é que você consegue escrever assim! É lindo!
=***
Brena,
Agradeço muito sua visita e volte sempre...pois eu estarei sempre aqui...só não vou te adicionar como página favorita pq não sei como fazer isto...bem que já tentei...mas seu blog é digno de visitas constantes...
grande abraço e continue escrevendo e traduzindo o que as vezes parece não ser possível traduzir...
Adorei!
Totalmente demais! hahahaha
;)
Bjinho
essa loira não sabem nem q hora que tá com fome.
Existem vizinhos q ainda fazem isso? hahahahaha
Texto fino, Brena Jones! =)
Ei mineirinha como vai nosssa terrinha? passando pra dar uma espiadinha por aqui e te oferecer o award Blog perola da net do Lua em poemas com muito carinho.
Nossa. Nada é por acaso mesmo. agora já não lembro muito bem como vim parar aqui. só sei que não consegui sair. Acho q li tanto q me deu até dor de cabeça. mas como nada é por acaso( cvoltando, rs). Eu li essas coisas perfeitas q vc escreveu na melhor hora. A hora em q eu mais precisava. E preciso. Espero q eu crie vergonha na cara. (mas, sentimento a gente não controla msm) ...
Enfim... depois d ler tanto os seus textos maravilhosos, tive que, te parabenizar de alguma forma, apesar de saber q vc deve estar cansada disso. rs
Parabéns. vc tem uma mente iluminada pra passar pro papel (ou oro pc) essas ideias ocm tanta clareza.
Beijos! e Boa SOrte!
Natália
Oi Brena,
Como vai a vida? Vejo que você continua com reflexões muito interessantes, isso é bom. Esse questionamento, essa inquietude, é positiva. Porque simplesmente seguir o que aparece e se divertir me parece vazio e esse vazio, não se parece com você. É isso aí! Continue assim, mesmo que volta e meia isso te incomode, mesmo que ora ou outra, você deseje ser outro que no fundo, não é ninguém.
Suas palavras não se repetem. Isso é o melhor. Você consegue levar a mesma balada abordando temas cotidianos e comuns a maioria de nós. Essa troca, essa cumplicidade, esse amparo no sentir é super saudável, é que nos motiva a continuar dividindo nossas emoções com as outras pessoas.
Beijo Gde,
Deco.
Acontece que, se quem vale a pena dificilmente vai olhar pela janela, imagina então dizer oi e vestir o melhor sorriso?
eu acho que de perto as coisas ficam mais bonitas, mesmo os "defeitos"
um beijo
Bom...adorei mas isso pode ser tb um convite pra ele se aproximar e conhecê-la e quem sabe ele nao seria um dos pedaços que ela estaria procurando...
Brena,por favor me envie o texto "A vizinha gostosa do prédo da frente".Gostaria deperguntar se posso colocar seu texto no perfil do meu orkut. Caso a autorizaçãonão seja concedida, eu compreenderei.
Obrigada
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