23 agosto 2006

VOU TE DAR UM CONSELHO


A gente tem uma mania estranha. Todo mundo tem. A mania de pedir e de dar conselhos. E lá alguém é capacitado pra dar conselho pra vida de alguém? Como se fosse um mestre espiritual. Um Dalai Lama. Quiçá fosse. Nem assim. Nem assim estamos aptos a dar conselhos pra vida de quem quer que seja. Ainda que pro bem da pessoa que recebe o tão “estimado” conselho.

Tenho pensado muito nisso ultimamente. Especialmente porque estou tentando me adaptar à nova vida que escolhi pra mim. E essa nova vida se chama: minha vida é um livro fechado. Com cadeado. E protegido por senha alfa e código de segurança máxima. Não está sendo fácil. Até mesmo porque sempre fui muito transparente. Mas, agora, parei de contar minha vida e pedir conselhos. Não me interessam mais. Da minha vida, sei eu. Porque, se no final, der tudo errado, quem tem que arcar com o estrago sou eu mesma.

As pessoas pensam que conhecem as outras. Mas, na verdade, o que elas fazem, a todo tempo, é julgar umas às outras. Ainda que inconscientemente. O fato é que estamos 24 horas sob julgamento alheio. Seja dos nossos amigos, dos nossos colegas de trabalho, dos nossos ficantes, da nossa família, da atendente da padaria ao lado. As pessoas nos julgam o tempo todo. Nos julgam pela marca da roupa que nós vestimos. Pelo carro que a gente dirige. Pelo tom da voz que a gente fala ao telefone. Pelo modelo do aparelho de celular que carregamos na bolsa. Pela bolsa. Pela empresa onde trabalhamos. Pelo cargo que ocupamos. Pelo nosso corpo. Pela cor da nossa pele. Pelo nosso sexo. Pela nossa idade. E por uma outra infinidade de coisas que não significam nada no final das contas.

Eu mesma conheço muita gente que anda de carro do ano (pago em sei lá quantas milhares de prestações) e mal tem dinheiro pra pagar as contas no final do mês. Conheço gente que ganha salário mínimo e usa calça Diesel. Conheço gente que tem o celular mais caro do mercado e não tem dinheiro pra manter uma linha telefônica. Conheço gente que fala manso e é pilantra. Conheço gente que fala alto e é um doce. Conheço gente nova que já viveu pra vida inteira. Conheço gente velha que ainda tem muito o que viver. Conheço mulheres que trabalham feito homens. E homens que não encaram uma barata no chão da cozinha (conheço inclusive homens que não encaram nada, mas isso é uma outra história). Portanto, vamos viver mais e julgar menos. Viver mais a nossa vida e nos preocupar menos com a dos outros. Vamos parar de colocar rótulo em tudo. De comprar o produto pela embalagem. De achar que sabemos de antemão quem é a pessoa com quem estamos tratando. Nunca sabemos. Nem nunca saberemos.

Então, por favor: não me dê conselhos. Tudo que você conhece de mim é a embalagem. Você não sabe o que vai aqui dentro. Não sabe o que eu já vivi. E, mesmo que eu te contasse, você nunca saberia, porque nunca sentiu por mim. Você não sabe o quanto eu gosto (ou não) daquele cara que você acha idiota. Então, não venha me dizer que ele não presta. Quem tem que saber disso sou eu. Quem sabe o tanto que é bom quando eu estou com ele sou eu. Não venha me dizer que fulano ou beltrano são os caras ideais pra mim. Porque, por incrível que possa parecer, eu não acho a mínima graça neles. Não venha me dizer se eu devo trabalhar mais ou trabalhar menos. Gastar mais ou gastar menos. Beber mais ou beber menos. Sair mais ou sair menos. Comer mais ou comer menos. Comer carne ou não. Comer comida japonesa ou não. Ir pra festa X ou Y. Não me julgue pelo que eu faço, pelos lugares que eu freqüento ou pelas pessoas com quem eu me relaciono. Antes de me telefonar pra dar conselhos sobre quem “presta” ou “não presta” pra mim, preste mais atenção na sua própria vida. Se quer um conselho, não vou te dar. Acho que você deveria fazer o mesmo. Apenas acho.


“Conselho é aquilo que pedimos quando já sabemos a resposta, mas gostaríamos que não fosse aquela.”

16 agosto 2006

MOCINHO X BANDIDO

Um faz o tipo bom moço. Tem cara de anjo. E aquele cabelo. Ah, aquele cabelo! Ele desperta seu lado mais romântico. É uma mistura de príncipe William com Leonardo DiCaprio em Titanic. Esse é o mocinho da vez. O outro faz o tipo cafajeste. Tem cara de mau. E aqueles braços. Putz, aqueles braços! Ele é só desejo. Puro sex appeal. Faz você se sentir a Sharon Stone em carne e osso. Esse é o bandido.

O mocinho te chama de linda. Elogia seu sorriso. Convida você pra tomar vinho. O bandido nem precisa te chamar. Ele olha pro seu lado e você se rende. Ele passa a mão no cabelo e você passa mal. Ele convida você pra dormir na casa dele e você já se entregou.

E o bom moço tem aquela boca macia. Aquela pele de edredom. Aquelas mãos suaves quando seguram seu rosto. Aqueles olhos verdes mais doces do mundo. O outro tem pegada. Tem as mãos firmes. Tem aqueles braços fortes te segurando pela cintura. E aquele olhar. Putaquepariu, aquele olhar!

E entre um e outro, tem você. Que quer namorar e quer estar solteira. Que quer o bom moço e quer aquele que te puxa pelo cabelo. Que quer tomar vinho com um e quer dormir na casa do outro. Que quer um te mandando mensagens lindas à tarde e quer o outro te ligando à noite. Que quer alguém pro resto da vida e quer alguém que vá embora de manhã cedo. Entre o bom moço e aquele outro que não vale nada, tem você que não sabe de nada. Que se pergunta o tempo todo o que é mesmo que você quer pra sua vida.

O bom moço te leva pro cinema domingo à noite. Vai com você sábado à tarde fazer compras no shopping lotado. E não reclama. Está sempre de bom humor. Tem sempre uma solução pros seus problemas mais sem importância (mas que, pra você, são os maiores do mundo). O outro nunca tem tempo pra você. Nem sempre está de bom humor, muito menos disponível. E se você tem um problema, qualquer que seja, o problema realmente é seu.

Na verdade, seu único problema é querer resolver a briga entre a razão e o coração. Querer que os dois lados se entendam a qualquer custo. Só que isso não vai acontecer. A razão escolhe um e o coração escolhe outro. E você fica no meio desse fogo cruzado. Mandaram você pra guerra sem armas. Sem munição. Sem sequer uma armadura decente pra você se defender. E agora, dá-lhe tiros de todos os lados. Sua cabeça está prestes a explodir. E seu mundo, a cair bem a seus pés. Em pedaços estilhaçados.

Mas, quando você optar por uma coisa, vai ter que abrir mão de outra. E você não quer abrir mão de coisa alguma. Você quer tudo de uma vez. É egoísta. Ciumenta. Possessiva. Mimada. Não aceita “não” como resposta. Pensa que o mundo deveria ser do jeito que você gostaria. Pensa que pode ter o mundo na sua mão. Só que, uma hora, você vai ter que fazer a escolha, já que esse negócio de ficar em cima do muro nunca foi a sua praia mesmo. Mas você sabe que seguir a razão não tem a mínima graça. E seguir o coração é se meter em grandes enrascadas (quase sempre). Então, você continua dividida entre o que você quer e o que é melhor pra você. Entre aquele que você quer e aquele que quer você. Entre jogar e se jogar. Entre o mocinho e o bandido. Entre uma balada e outra. Entre uma e outra cantada barata na noite. Entre uma caipi-fruta e um vinho barato. Entre uma e outra carinha bonita interessada em você. Entre dois passarinhos voando e uma mão vazia.

09 agosto 2006

TIMING

Era janeiro e tudo que você queria era curtir uma praia e um amor de verão. Você só não imaginava que tudo fosse acontecer tão rápido, tão intenso e tão perfeito. Vocês se encontraram na estrada. Você nunca acreditou no acaso. Ele conseguiu seu celular no dia seguinte. Você aceitou o convite pra sair. Ele disse que queria te roubar pra ele. Você pediu que o mundo parasse pra você descer.

E, no dia seguinte, mal você tinha acordado, lá estava ele tocando o interfone. “Vamos pra praia comigo?” Um fofo. Lindo e loiro. Loiro e sarado. Sarado e fofo. Com aquele coração de atleta. Aquele coração que fazia tum tum enquanto o seu fazia tum tum tum tum tum. E aquelas coxas de jogador de futebol. Pelamordedeus, aquelas coxas de jogador de futebol! E aquele jeito fofo de te olhar. De te abraçar. De rir de você quando você começava a dançar sozinha. Aquelas manhãs na areia da praia. Aquelas tardes no cinema. Aquelas noites.

E ele corria um sério risco cada vez que ele abria a boca pra falar alguma coisa. Porque, a qualquer momento, você poderia responder “sim, aceito.” Foi tudo tão perfeito. Tudo tão intenso. Tudo tão rápido. Tão rápido quanto o fim do verão. Acabou o verão e vocês voltaram à vida normal. Voltaram pra cidade onde moram. E, por coincidência (ham???), vocês moram na mesma cidade. E você esperou que ele te ligasse. Esperou um dia. Esperou uma semana. Esperou um mês. E você cansou de esperar. E nunca mais teve notícias dele. Você foi viver sua vida. Saiu. Conheceu gente nova. Conheceu alguns caras bacanas. Conheceu alguns caras chatos. Conheceu vários idiotas. Você se apaixonou novamente. Você se desapaixonou. Você viveu. E o mundo parou várias vezes pra você descer.

Então, sete meses depois (sete meses!), toca o telefone da sua casa (da sua casa!!!). Você reconhece aquela voz, mas prefere não acreditar nos seus ouvidos. “Alô, quem fala?” Seus ouvidos não mentem e seu sexto sentido muito menos. Uma hora ou outra, isso ia acabar acontecendo. Um pouco sem entender nada, um pouco desconcertada, você recusa um convite pra sair sexta-feira à noite. Sim, você inventa uma desculpa e prefere ficar em casa sexta-feira à noite.

Como assim??? Como assim que, um dia, você ficou arrasada em casa porque aquele lindo-tudo-de-bom tinha sumido e, no outro, você recusa o convite pra sair com ele??? Mas ele tem essa mania de ser fofo mesmo. Então, sábado, seis horas da tarde, seu telefone toca novamente. Adivinha?! “Hoje, não vou sair. Estou passando mal. Morrendo de dor de garganta”. Dor de garganta onde, Senhor Jesus??? Era tão mais justo você falar que não estava afim de sair com ele mais. Tão mais simples do que pensar numa desculpa esfarrapada e ainda ter que ouvir um “tudo bem... te ligo no meio da semana pra gente combinar alguma coisa.”

Ele continua lindo. Fofo. Loiro. Sarado. Bem nascido. Bem criado. Bem educado. Continua com aqueles olhos azuis. Com aquela voz fofa. Com aquela risada gostosa. Com aquele jeito de falar seu nome que te desmancha na cadeira. Nada mudou. A não ser pelo tempo que passou. Estranho como o tempo muda tudo. Muda nossa percepção das coisas. Estranho o que o tempo faz com a gente. E ainda bem que você guardou o “sim, aceito” pra uma outra ocasião. Porque, hoje, simplesmente, passou. Vocês perderam o momento certo. Você viveu o que tinha pra viver até a última gota. Você esticou a corda até o limite. Você sempre teve essa mania de tentar agarrar tudo com unhas e dentes, mas, quando solta, solta mesmo.

Hoje, sete meses depois, você prefere que ele não te ligue pra não ter que pensar em uma boa desculpa pra recusar o convite. E ele continua tendo todas aquelas qualidades que faziam você babar por ele. Só que, hoje, você não baba mais. Hoje, seu coração não dispara mais quando ele te liga. Hoje, você não quer mais que o mundo pare pra você descer. Você quer é abraçar o mundo por ele ser redondo desse jeito. Mundo redondo. E, hoje, é você que pára e agradece o mundo por ele ser redondo e dar voltas.


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Obrigada por serem tão fofos comigo. Por deixarem comentários lindos. Por me mandarem e-mails lindos. Sou boba mesmo e fico rindo sozinha na frente do computador com cada nome novo que aparece aqui no blog!
Aninha, "esticou a corda" foi em sua homenagem, fofis! E, só pra constar: a corda arrebentou!
Beijos

02 agosto 2006

PERSONAGEM DA VIDA REAL


Você é solteira. Você mora sozinha. Você é divertida. Você tem um papo legal. Você é inteligente. Você é geração saúde. Você não curte drogas. Você é bem nascida. Você é bronzeada. Você tem a barriga que pediu a Deus. Mas você pensa que tudo isso não basta. Então, você cria personagens pra si mesma. Inventou uma super-mulher que não existe. Inventou uma armadura invisível pra se defender de alguma coisa que nem você sabe muito bem o que é. Você tem medo de se envolver com as pessoas erradas e acaba se envolvendo com as pessoas que não se envolvem também.

E, pra cada história, um personagem. Pra sua família, você é a perfeitinha. A melhor aluna na época de colégio. A filha exemplar. A garota mimada que nunca se envolveu com coisa errada. Pros seus amigos, você é a louca. Você está sempre pronta pra ajudar. Você resgata sua amiga de uma enrascada às 3h da manhã, bêbada. Você atende o celular no meio da noite quando sua outra amiga te liga em prantos. E você sai de onde está porque alguém precisa da sua ajuda. Você é sempre sorrisos. Sempre aquela pessoa alegre que fala bobagem e diverte as outras.

E, pro seu ficante, você criou uma mistura de Sharon Stone com Madonna. A mulher fatal. Moderna. Sexy. Desinibida. Que desenvolveu uma espécie de "corpo-delivery". Ele liga e você vai. No strings attached. E você sai com ele da festa às 5h da manhã. Você é a incansável. A que volta pra casa sozinha às 9h30 da manhã. Que faz cara de paisagem quando ele diz que adorou a noite e responde um “também” quase mudo. Como se não se importasse. Você elogia o cabelo dele quando, na verdade, gostaria de dizer “cara, você é bacana”. Você pede pra ele te levar embora quando simplesmente poderia pedir “me abraça”. Você desestimula qualquer manifestação de sentimento do cidadão. Faz isso desde a primeira vez que vocês saíram. E, agora, está presa ao personagem que criou pra si mesma.

Você é exatamente o que as pessoas esperam de você. Você fala o que elas querem ouvir. Você faz o que elas esperam que você faça. Você se comporta da forma que elas esperam que você se comporte. Você cansou de dar a cara pra bater e resolveu brincar de ser outra pessoa. De encarar um novo papel a cada nova situação. Você analisa a pessoa, descobre o que ela espera de você e puf! Você se transforma exatamente naquilo.

E, numa bela manhã, a ficha caiu. Seu mundo caiu. Você descobre que voltar pra casa, morta, às 9h30 da manhã, não é exatamente o que você queria estar fazendo naquele momento. De novo aquela sensação de estar fazendo tudo errado. Você até seguiu seu coração. Dispensou dois ex-ficantes na noite pra ficar com o cara que você queria. Fez exatamente como queria ter feito. Então, de repente, a Sharon-Madonna entra em ação e põe tudo a perder. Você veste o personagem e é como se você fosse só aquilo. Um corpo. Um sorriso mal intencionado. A noite se torna tão previsível que você já sabe onde vai acabar. Você montou toda a cena, apesar de não ter o mínimo controle da situação.

Talvez, então, seja a hora de deixar cair a máscara. De pedir licença ao público pra ser você mesma. De se permitir errar quando tenta acertar. De mostrar pros seus amigos que, às vezes, é você quem precisa de ajuda no meio da madrugada. Que você não é só sorrisos, tem hora que você chora. Que você gosta de colo também. Que você gosta quando as pessoas são fofas com você e não só quando elas te pegam de jeito. Que você não é esse furacão 24 horas por dia. Que você dorme sexy e acorda um lixo. Que você odeia se sentir só mais uma. Que você, às vezes, se sente um corpo por ir embora de manhã cedo. Que você pode ser a perfeitinha, a louca, a Sharon, a Madonna, a Britney e até a Madre Tereza de Calcutá, mas ainda assim, você continua sendo você. Imperfeita. Única. Cheia de qualidades e defeitos só seus. De saco cheio das pessoas comprarem seus personagens. De saco cheio de acreditar nos próprios personagens que criou pra si. E cheia de vontade de jogar tudo pro alto.