A gente tem uma mania estranha. Todo mundo tem. A mania de pedir e de dar conselhos. E lá alguém é capacitado pra dar conselho pra vida de alguém? Como se fosse um mestre espiritual. Um Dalai Lama. Quiçá fosse. Nem assim. Nem assim estamos aptos a dar conselhos pra vida de quem quer que seja. Ainda que pro bem da pessoa que recebe o tão “estimado” conselho.
Tenho pensado muito nisso ultimamente. Especialmente porque estou tentando me adaptar à nova vida que escolhi pra mim. E essa nova vida se chama: minha vida é um livro fechado. Com cadeado. E protegido por senha alfa e código de segurança máxima. Não está sendo fácil. Até mesmo porque sempre fui muito transparente. Mas, agora, parei de contar minha vida e pedir conselhos. Não me interessam mais. Da minha vida, sei eu. Porque, se no final, der tudo errado, quem tem que arcar com o estrago sou eu mesma.
As pessoas pensam que conhecem as outras. Mas, na verdade, o que elas fazem, a todo tempo, é julgar umas às outras. Ainda que inconscientemente. O fato é que estamos 24 horas sob julgamento alheio. Seja dos nossos amigos, dos nossos colegas de trabalho, dos nossos ficantes, da nossa família, da atendente da padaria ao lado. As pessoas nos julgam o tempo todo. Nos julgam pela marca da roupa que nós vestimos. Pelo carro que a gente dirige. Pelo tom da voz que a gente fala ao telefone. Pelo modelo do aparelho de celular que carregamos na bolsa. Pela bolsa. Pela empresa onde trabalhamos. Pelo cargo que ocupamos. Pelo nosso corpo. Pela cor da nossa pele. Pelo nosso sexo. Pela nossa idade. E por uma outra infinidade de coisas que não significam nada no final das contas.
Eu mesma conheço muita gente que anda de carro do ano (pago em sei lá quantas milhares de prestações) e mal tem dinheiro pra pagar as contas no final do mês. Conheço gente que ganha salário mínimo e usa calça Diesel. Conheço gente que tem o celular mais caro do mercado e não tem dinheiro pra manter uma linha telefônica. Conheço gente que fala manso e é pilantra. Conheço gente que fala alto e é um doce. Conheço gente nova que já viveu pra vida inteira. Conheço gente velha que ainda tem muito o que viver. Conheço mulheres que trabalham feito homens. E homens que não encaram uma barata no chão da cozinha (conheço inclusive homens que não encaram nada, mas isso é uma outra história). Portanto, vamos viver mais e julgar menos. Viver mais a nossa vida e nos preocupar menos com a dos outros. Vamos parar de colocar rótulo em tudo. De comprar o produto pela embalagem. De achar que sabemos de antemão quem é a pessoa com quem estamos tratando. Nunca sabemos. Nem nunca saberemos.
Então, por favor: não me dê conselhos. Tudo que você conhece de mim é a embalagem. Você não sabe o que vai aqui dentro. Não sabe o que eu já vivi. E, mesmo que eu te contasse, você nunca saberia, porque nunca sentiu por mim. Você não sabe o quanto eu gosto (ou não) daquele cara que você acha idiota. Então, não venha me dizer que ele não presta. Quem tem que saber disso sou eu. Quem sabe o tanto que é bom quando eu estou com ele sou eu. Não venha me dizer que fulano ou beltrano são os caras ideais pra mim. Porque, por incrível que possa parecer, eu não acho a mínima graça neles. Não venha me dizer se eu devo trabalhar mais ou trabalhar menos. Gastar mais ou gastar menos. Beber mais ou beber menos. Sair mais ou sair menos. Comer mais ou comer menos. Comer carne ou não. Comer comida japonesa ou não. Ir pra festa X ou Y. Não me julgue pelo que eu faço, pelos lugares que eu freqüento ou pelas pessoas com quem eu me relaciono. Antes de me telefonar pra dar conselhos sobre quem “presta” ou “não presta” pra mim, preste mais atenção na sua própria vida. Se quer um conselho, não vou te dar. Acho que você deveria fazer o mesmo. Apenas acho.
“Conselho é aquilo que pedimos quando já sabemos a resposta, mas gostaríamos que não fosse aquela.”