05 abril 2006

O DIA SEGUINTE


Lá está você. Protagonizando aquela cena digna de novela mexicana. Você se tranca no banheiro. Senta na tampa do vaso sanitário. Apóia o rosto nas mãos e os cotovelos nas pernas. Chora. Chora, não. Desaba! Você chora até perder as forças. E deixa a dor escorrer pelos olhos. E essa dor te consome. Suga de você toda energia, todo viço da pele e todo brilho dos olhos. Mas é que você nunca soube muito bem lidar com finais infelizes. E vai ter que aprender na marra agora.

Acontece que não te contaram que Romeu e Julieta morreram e nunca mais se encontraram. Não te contaram que hollywood cria histórias mágicas que não se repetem na vida real. E você acreditou que podia ter o amor da sua vida pra sempre. E agora, você está sem chão. Sem forças. Sem rumo. Sem o mínimo controle da situação. E o que é pior: sem a mínima vontade de começar tudo de novo. Encarar a vida de solteira. As cantadas baratas. As noites vazias. Os “eu te ligo” nada confiáveis. Os finais de semana em casa. Os finais de semana na rua. Os feriados em que você precisa arrumar uma super viagem bacana pra não correr o risco de sobrar na capital sozinha.

Até que suas amigas te tiram de casa - praticamente à força - e você decide se aventurar na primeira noitada da sua nova (!!!) vida de solteira. E é então que alguma coisa parece avisar ao sexo masculino que você é “carne nova” no pedaço. Você está altamente solicitada na festa. Aqueles que já te conhecem vêm falar com você. Vêm dizer como está linda. Perguntam pelo namorado. Que namorado??? Tudo bem. Era só um pretexto pra se aproximarem de você e se certificarem de que está mesmo solteira. O papo não é lá dos piores. Você conversa com um, conversa com outro. Conhece gente nova. Ri horrores. Conhece gente interessante. Gente chata. Uns mais novos. Outros mais velhos. Homens bonitos. Outros feios de doer.

Você está cercada de pessoas por todos os lados. Mas você senta no canto da festa sozinha. Você e aquele mísero copo de plástico de vinho suave barato (outra vez!). As pessoas parecem estar se divertindo enquanto você faz um enorme esforço pra entender como alguém pode se divertir daquela maneira. Beijando bocas aleatórias e conversando com pessoas que nada sabem a seu respeito. Virando garrafas de álcool e rindo de si próprios. Subitamente, então, sua filosofia barata é interrompida. Um inconveniente, chato, feio e bêbado tira seu sossego. Fala duas frases. Não pergunta seu nome mas diz que quer te beijar. Você não enxerga quais as razões que a levariam a cometer tal insanidade. Depois de meia hora tentando se livrar daquele encosto, você percebe que ele não vai mesmo sair dali e resolve fazer isso você mesma. Deixa o cidadão falando sozinho e continua na festa. Bebendo, rindo num tom que beira o nervosismo e observando quais as possibilidades na sua nova vida noturna.

Já é quase dia e seus pés doem incessantemente. Todo mundo bêbado e feliz (ou pelo menos se achando). Você bebeu um ou dois copos de vinho e está sóbria. E, mesmo que tivesse se embriagado, sabe que iria pra sua casa dormir e acordar sóbria e com uma puta dor de cabeça. E tudo voltaria ao normal. Mas você nem curte beber assim. É hora de partir e você entra no seu carro. Aquele pedacinho de poucos metros quadrados se transforma no maior espaço do mundo. E você, na menor pessoa do mundo. É tanto espaço sobrando. Você gostaria de não saber o que está faltando, mas você sabe muito bem. Você chora. Compulsivamente. E começa a imaginar, então, como vai ser sua vida daí pra frente. Com perspectivas nada animadoras. Você precisa de você de volta. Com urgência. Precisa preencher aquele espaço e o espaço da sua vida. Porque, daqui pra frente, você será sua melhor companhia.

39 comentários:

Anônimo disse...

O pior é q é assim mesmo, sem tirar nem pôr... =/
Textim foda!!

Anônimo disse...

Tô sem palavras aki.
É mto bom ter vc aki, de verdade.

:***

Dé Tolentino disse...

Perai que vou pegar a pipoca... Pq tem um filme passando aqui na minha cabeça!!!! Pros olhos inchados e vermelhos, compressa de camomila e colirio. Pro travesseiro molhado, fronha nova e lavanderia. Pro carro vazio, música boa e balas sortidas. Pros malas da festa, mantras orientais pra fingir que aquilo não é com você... Pro coração machucado, as vezes alcool, as vezes farras, as vezes compras, as vezes viagens. Mas no fim , vale isso: "No meu coração de retalhos/ espero você/ pra fechar a costura"...
E assim tudo passa... Pode demorar, mas passa...
Bjosssssss da Dé!!!!!!!!!!!!!!!!

Daniel Santos disse...

so só
so sorry
só céu
não morre

tão só
é só

sereno.

Anônimo disse...

Bre,
Nunca despresarás um texto desses... me vejo nele entre linhas!!!
Só no comentes antes pq... ele tava junto! Parece q eu tava rebobinando minha fita!
Bjusss my mió friend!!!
Orgulho!!!

Flávia C. disse...

A gente se imagina sozinha com essa precisão nas palavras. Fiquei até meio triste!

Mas hoje meu blog está em outro clima. Passa lá!

Beijos!

Augusto Galery disse...

Teve um tempo em que a gente era tão completo. Sempre quente, sempre confortável...
Aí, tudo se parte. Não é à toa que se chama "parto"...

(é, parece que não tem nada a ver, mas o pior é que tem!)

Augusto Galery disse...

´Brigado pelo link! Sentimo-nos muito honrados!!! :)

Anônimo disse...

Você certamente será sua melhor companhia!
Eu descobri que a gente deve se amar e não permitir que nos façam sofrer. Quando estamos felizes e de bem com nós mesmas,o resto é só alegria!
Sei que é difícil,mas com o tempo tudo volta ao seu devido lugar.
Sonhos e expectativas quebradas acontecem.
Bjim Brena e...ameeei o texto assim como amo todos que leio!

Dani Morreale Diniz disse...

Pessoa, menina, mulher, escritora, publicitária. Conteúdo é o que não te falta. Exagerada você heim?

Essa visão ai de "estar à solta" acho que serve só pra mocinhas de conteúdo recheado que pelo visto do tipo "a gente" kkkk 9sou modesta mesmo huauhaa), há as que piram quando terminam, e ao invés de 2 copinhos de vinho, jogam na guela são litros de chapinha kkkkkkkk.

Insuficência pela falta do incrível homem. Aiiiiii

Beijos sua exagerada, você arrasa e continue exagerando que eu vou te devorando.

Amo ler suas palavras unidas.

= )

Anônimo disse...

Adorei a última frase... é isso aí! Quando a gente só, se basta, o mundo, apesar de ter cores menos intensas, fica mais confortavelmente feliz!

Beijo!

Laura Pantaleao disse...

pô amiga, você também terminou com o namorado?? estamos no mesmo barco entao... mas eu ainda nao tinha enxergado minha siuaçao dessa maneira tao negra. confesso que seu post me deu vontade de chorar... :(

força garota! bola pra frente! uma mulher bonita e inteligente como você nao fica sozinha muito tempo!

bjs

Anônimo disse...

Brena
vim aqui passear e encontro toda essa tristeza...e dizer o que...
dizer que vale o que se viveu
vale o que virá
viver é isso mesmo
ir tentando
quebrando a cara
voando
tudo possível
tudo a um passo
do chão
ou
do
paraíso
tudo impossível de se prever e enxergar no meio de uma crise e de uma dor...mas concordo com o Garfield quando no meio de uma situação danada diz "no futuro ainda vou rir disso tudo"...um dia a gente vai.. rir muito
e brindar a benção de estar VIVA e sentindo tuuuuuuuuudo..
beijos-thanks pela visita e o comentario

Mineiras, Uai! disse...

Uhúúú menina! Arrasou!
Tenho sentido seus textos um tanto quanto melancólicos ultimamente... Mas nada diferentes de uma realidade que pelo menos eu já vivi inúmeras vezes...
Sua escrita tá perfeita!
Beijos
Ana

Joao Guandalini disse...

Concordo com a moça acima, vc está bem down... Anyway, balada sem uma turma legal e alguem legal ao lado é tão futil que nem dá pra considerar... Beber até morrer e beijar pensando em f...??? No way! Preciso a diversão com os amigos, as risadas sinceras e uma boca quente e conhecida pra beijar nas horas de marasmo na balada... Ainda bem que eu já me agilizei, mas sua hora chega, ahhh, chega, hehehe Beijos!

Anônimo disse...

você precisa de você de volta nessa horas. mas pode ter acontecido de você ter esquecido quem é depois de um tempo a dois. o que sobra quando fica um?

Anônimo disse...

Pois é, mas eu normalmente, me tranco no banheiro e apoio os cotovelos na pia e chooorooo, quer dizer, desabafo! O resto? Tudo igual ao texto... ADOREI,viu?
:)

Ana Boaventura disse...

Filha, c tá se superando. Vamos juntar essas crônicas e escrever um livro baseado em fatos reais...
Sucesso total!!!
beijocas

Unknown disse...

Querida, esse é o melhor momento que alguém pode passar, acredite!
É quando se sente o gosto amargo da solidão e num futuro bem próximo vem o gosto doce da felicidade.

Bjs,

Vinicius Factum
Blog de um Cidadão

Anônimo disse...

Oh Brena nada como o tempo para fazer você enxergar as coisas com outros olhos e se divertir com essa situação. Mas também não consigo imaginar-me sozinha, quando namoramos muito tempo é difícil mesmo essa adaptação. Mas tudo passa e encontrará uma outra pessoa que vai te fazer feliz intensamente. Se cuida e tenha um bom final de semana. Um beijo

Walter Carrilho disse...

Olha, eu sempre costumo deixar comentários divertidos nos blogs. Mas eu fiquei sem palavras, agora.

Sensibilidade e tanto para a escrita! Descrição muito verdadeira de um momento doído.

Mas se quiser eu volto e conto uma piadinha...Até nós, encapuzados, temos coração.

Anônimo disse...

Ai Brena, você escreve que é uma maravilha! Até dá gosto ler!
Parabéns!
Um abração,
Daniela Mann

Anônimo disse...

Nossa adorei a fluidez do seu texto, gostaria de escrever assim...

http://dudve.blogpost.com

Anônimo disse...

Gostei do seu blog, parabens, o texto é lindo!!!!!


visita o meu

www.magaiverbr.zip.net

Anônimo disse...

Nossa, amei o blog, d+, parabens!

Anônimo disse...

Perfeita, como sempre!
Você fala a língua de quem lê o seu blog, e isso é fascinante!
E, qual o ser humano que nunca passou por pelos menos um parágrafo descrito no seu texto?
Oh céus!
hehehe
Bjss querida!
=*

Maíra LABANCA disse...

amei seu blog!

Anônimo disse...

Adorei seu blog.... e esse texto entaum... já leu os textos da Tati Bernardi? vc tem uma linguagem parecida! Parabens, bjos

Dé Tolentino disse...

Brena Maria, sua peça rara!!! Passo mal de rir com a sua pessoa!!!!! Organize bem a pauta para nossa reunião e informe minha secretária. Desde já agradeço,
Déborah Cristina Villas Boas (pra que o dani foi descobrir essa minha outra personalidade??? afff...)

Tex Murphy disse...

Tô meio atrasado pra comentar, mas eu entendo bem o que vc está passando... A única coisa que eu posso te dizer, sinceramente, é que isso passa. E a única pessoa que pode fazer isso passar é você mesma.

Passei por isso quando terminei com a minha ex (a anterior da Flávia)... As pessoas me empurrando pra festa, as pessoas festejando, um monte de casaizinhos e eu lá, sem saber o que tava fazendo ali e jurando que não iria sair mais de casa.

Pra mim a única coisa que resolveu foi uma viagem, 5 meses depois da desgraça, pra Oktober. Eu tb fiquei sóbrio... Mas me diverti à beça com mais dois amigos, falando bobagem a viagem inteira. Dirigi na ida e na volta (tem vários posts da viagem no meu blog se vc quiser ler), levei os problemas comigo, chorei sozinho no meio da Oktober.

Mas os problemas ficaram por lá, Brena. Voltei sem eles, nem sei explicar pq... Um mês e meio depois a Flá apareceu na minha vida e eu estava bem o suficiente pra saber enxergá-la.

Você e o tempo podem dar jeito nisso, mas vcs têm que agir em conjunto... Você consegue, viu? Eu consegui!

E se vc quiser tb, tem outra seqüência de posts (chamados "O Feitiço do Tempo", divididos em partes) que fala o que eu passei. Meu blog mostra a transição da minha vida. Se ajudar em alguma coisa, leia à vontade (só que o Haloscan deletou meus comments!! Buááááá).

Beijo! E melhoras, viu?

Anônimo disse...

Amiga, qto tempo não deixava um Oi por aki...
Menina, q sucesso, hein...
To bege!
Já dei minha opnião, né? Investes, pq vc escreve bem demais!
Bjssss e sucesso sempre!!!

Anônimo disse...

Amiga querida,
adorei seu texto, como sempre. Queria deixar uma frase bacana de Nietzsche: "Aquilo que não me mata, me torna mais forte".
Beijos e sucesso com o blog! Vi.

Anônimo disse...

Amiga querida,
adorei seu texto, como sempre. Queria deixar uma frase bacana de Nietzsche: "Aquilo que não me mata, me torna mais forte".
Beijos e sucesso com o blog! Vi.

Magui disse...

Pobre daquele que coloca a sua felicidade nas maos de outros.Uma vida saudavel e aquela que busca a riqueza em si mesmo. Vc chora nao porque perdeu alguem mas porque tem medo de seguir sua vida sem uma muleta. Alegria, a vida e bela sem um homemdo lado.Pelo jeito ele fez bem em cair fora.( tambem sou de BH)
http://somagui.zip.net

Anônimo disse...

Oi Brena, adorei o blog... parabéns!
vc escreve mt bem...
me vi neste texto... rs... fazer o que né?!
bj

Anônimo disse...

Caramba..
Meu carro também ja foi meu maior vazio!!!
nao sou a unica!
bjuuus

Anônimo disse...

Caramba..
Meu carro também ja foi meu maior vazio!!!
nao sou a unica!
bjuuus

Carolina Braga disse...

'Porque, daqui pra frente, você será sua melhor companhia.'

Moça, vc se garante viu!rs Sério mesmo!
Publica vaai!!
Eu compro Palavra.
Beijo!
:)

Anônimo disse...

Até chorei :/