26 abril 2006

AMIGA PELA METADE


Que história é essa de amiga pela metade? Eu não gosto de metades. De gente que não sabe ser. Que não sabe a que veio. De respostas em monossílabos. “Não” e “sim” nunca foram resposta. Isso não é amizade. Amizade de verdade tem que ter cumplicidade. Tem que ter olho no olho. Sentimento. Troca. Troca de confidências. De desabafos. Amores à parte. Esses não trocamos.

Quem é você que se diz minha amiga e eu não sei da sua vida? Que já fomos confidentes e hoje eu nem sei se está saindo com alguém. Se está feliz. Se ele te faz feliz. E eu não sei o nome do cara que está saindo com aquela que um dia se disse minha amiga sem conhecer o verdadeiro sentido da amizade. De compartilhar emoções perdidas. Conquistas. Derrotas. De compartilhar aquela noite de sexta-feira, quando ninguém te chamou pra sair e você teve que ficar em casa assistindo tv.

Quer saber? Você não me apetece. Tenho preguiça profunda de gente que não se dá. De gente “pé atrás”. De gente que é amigo nas horas vagas. Não, baby, eu quero full time. Eu quero a amiga que é toda ouvidos. Conselhos. Palavrão. Choro. Riso. Noite. Champagne. Vinho barato. Festas. Tropeços na calçada. Convites pro evento do ano. Mico do ano. Chocolate no cinema. Fila de cinema. Shopping no meio da tarde. Piscina no sábado de manhã. Assunto que não acaba mais. Telefonema sem assunto. Viagem pra praia. Os bonitos no trânsito. Os feios por toda parte. Os caras que a gente quer. Os caras que a gente não quer. Os caras que querem a gente. Os caras que não querem a gente. A gente.

No amor, existe essa história de “cara metade”. Não sei. Nunca achei que tivesse faltando nada por aqui. Agora, não me venha com essa moda de “amiga pela metade”. Não vai colar. Dobre seus monossílabos numa mala e envie-os pra Abu-ghraib. Daí, se os sintomas persistirem, despacho você junto semana que vem.

19 abril 2006


Tive que aprender, na marra, a lidar com a saudade que nunca vai passar. A saudade de quem foi embora pra sempre. E sempre quis escrever isso, mas nunca antes tive coragem. Ou, talvez, nunca tenha tido forças. Começo e, de repente, não consigo mais teclar.

Se eu soubesse que aquela seria a última vez que eu fosse te ver, teria te abraçado mais forte. Teria atrasado minha viagem, em meia hora que fosse, pra jogar conversa fora. Pra lembrar do seu sorriso ingênuo. Pra contar casos que agora eu não posso mais te contar. Casos do Vitinho, do Henrique e do Renatinho. Coisas que não fazem sentido pra mais ninguém, mas pra gente fazia. E como. Outro dia, tive notícias do Vitinho. Queria ter te contado.

E das vezes que eu chorei na escada do prédio. Menina. Por uma coisa tão banal. E você, tão menina quanto eu, me socorria. E me dizia palavras que pareciam tão mais maduras do que eu. E nem eram. Éramos duas meninas com nossos problemas adolescentes que, para nós, eram os maiores problemas do mundo. E seu chapéu de Paquita? Está na minha casa até hoje. Assim como todas as cartas com aquela letra linda que só você tinha na época do colégio. Aquela letra que escrevia as fichas do nosso “Xou da Xuxa”. Aquela sua inocência de menina que nunca passou. Pessoa boa que pensava que o mundo era bom também.

Por um ano, guardei seu presente de aniversário. Por falta de tempo pra gente se encontrar e eu poder entregá-lo pessoalmente a você. Já era quase o outro aniversário quando nos encontramos pra aquela que seria a nossa despedida. Mas só soube disso depois. O destino aprontou essa comigo. E ainda me pergunto se as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer mesmo. Quis Deus que eu tivesse te entregado seu presente de aniversário naquele dia. Não fosse isso, não me perdoaria por não ter achado um tempo que fosse pra te encontrar.

The Maris, você vai ser, pra sempre, minha melhor amiga de infância. Quando você foi embora, levou junto parte da minha história. Mas eu tenho minha máquina do tempo. E o que me faz voltar ao passado são minhas lembranças. Lembranças de um tempo que não volta nunca mais. Espero que Deus esteja cuidando de você direitinho, porque eu ainda tenho vários casos pra te contar. Por enquanto, é só saudade.

12 abril 2006

QUERO VOLTAR HOMEM


Na próxima encarnação (se é que isso existe mesmo), eu quero voltar homem. Tenho pedido isso todos os dias nas minhas orações, porque acredito que, se eu fosse homem, minha vida seria muito mais fácil.

Eu quero voltar homem pra achar que futebol é a coisa mais importante do mundo. Pra conseguir odiar o Eurico Miranda num dia e amá-lo no outro. Pra saber de cor e salteado a escalação de todos os times de todos os campeonatos (suma importância!). Para que minha maior referência histórica seja a escalação completa da seleção nas copas de 1970, 1974, 1978... e quiçá 2006.

Pra achar que eu posso pegar tanto mais mulheres quanto mais caro for meu carro. Tanto mais mulheres quanto mais gorda for minha conta bancária. Tanto mais mulheres quanto mais eu mentir para seduzi-las. Para achar que a cerveja é minha melhor companhia. E que estar embriagado é o melhor que eu posso fazer por mim antes de “pegar” uma mulher. Pra achar que eu preciso me fazer de bom moço pra levar uma mulher pra cama (enquanto tem tanta mulher fácil por aí, né?!). Pra conseguir classificar as mulheres em “fácil” e “difícil” me baseando em um único critério (precisa explicar qual é???).

Vou querer ser homem para que minha maior preocupação com o futuro se resuma a “quem vai ser a próxima capa da Playboy?”. Pra não fazer a mínima idéia do que se passa na cabeça de uma mulher, mas conhecer até o útero da Sheila Carvalho. Pra nunca ter tempo pra ler sites com conteúdo, mas visitar 50 sites pornográficos por dia. Para pensar que os e-mails mais interessantes são aqueles de mulheres em poses ginecológicas. Pra pensar que mulher é um objeto. Um decote. Um rabo de saia. Uma bunda de 102cm de diâmetro. Um par de peitos de 250ml cada um.

Vou ser homem pra achar que não preciso ter vaidade nenhuma e que ninguém se importará se minha barriga mais parecer uma nhá-benta. Ou pra passar as tardes na academia, tomar bomba e ficar medindo meu bíceps com do meu amigo no espelho. Pra achar que um braço de 40cm é mais importante do que um QI de 130. Pra ler tudo sobre hemogenin, deca-durabolin, winstrol e durateston, mas nunca ter lido Nietzsche.

Definitivamente, preciso ser homem na próxima encarnação. Mas, enquanto esse dia não chega, continuo aqui. Mulher. Complicada. Loira. Nada burra. E apaixonada por esses homens.

P.S.: Homens da minha vida, não fiquem bravos comigo. Mas é que, realmente, não ando muito bem com vocês!

05 abril 2006

O DIA SEGUINTE


Lá está você. Protagonizando aquela cena digna de novela mexicana. Você se tranca no banheiro. Senta na tampa do vaso sanitário. Apóia o rosto nas mãos e os cotovelos nas pernas. Chora. Chora, não. Desaba! Você chora até perder as forças. E deixa a dor escorrer pelos olhos. E essa dor te consome. Suga de você toda energia, todo viço da pele e todo brilho dos olhos. Mas é que você nunca soube muito bem lidar com finais infelizes. E vai ter que aprender na marra agora.

Acontece que não te contaram que Romeu e Julieta morreram e nunca mais se encontraram. Não te contaram que hollywood cria histórias mágicas que não se repetem na vida real. E você acreditou que podia ter o amor da sua vida pra sempre. E agora, você está sem chão. Sem forças. Sem rumo. Sem o mínimo controle da situação. E o que é pior: sem a mínima vontade de começar tudo de novo. Encarar a vida de solteira. As cantadas baratas. As noites vazias. Os “eu te ligo” nada confiáveis. Os finais de semana em casa. Os finais de semana na rua. Os feriados em que você precisa arrumar uma super viagem bacana pra não correr o risco de sobrar na capital sozinha.

Até que suas amigas te tiram de casa - praticamente à força - e você decide se aventurar na primeira noitada da sua nova (!!!) vida de solteira. E é então que alguma coisa parece avisar ao sexo masculino que você é “carne nova” no pedaço. Você está altamente solicitada na festa. Aqueles que já te conhecem vêm falar com você. Vêm dizer como está linda. Perguntam pelo namorado. Que namorado??? Tudo bem. Era só um pretexto pra se aproximarem de você e se certificarem de que está mesmo solteira. O papo não é lá dos piores. Você conversa com um, conversa com outro. Conhece gente nova. Ri horrores. Conhece gente interessante. Gente chata. Uns mais novos. Outros mais velhos. Homens bonitos. Outros feios de doer.

Você está cercada de pessoas por todos os lados. Mas você senta no canto da festa sozinha. Você e aquele mísero copo de plástico de vinho suave barato (outra vez!). As pessoas parecem estar se divertindo enquanto você faz um enorme esforço pra entender como alguém pode se divertir daquela maneira. Beijando bocas aleatórias e conversando com pessoas que nada sabem a seu respeito. Virando garrafas de álcool e rindo de si próprios. Subitamente, então, sua filosofia barata é interrompida. Um inconveniente, chato, feio e bêbado tira seu sossego. Fala duas frases. Não pergunta seu nome mas diz que quer te beijar. Você não enxerga quais as razões que a levariam a cometer tal insanidade. Depois de meia hora tentando se livrar daquele encosto, você percebe que ele não vai mesmo sair dali e resolve fazer isso você mesma. Deixa o cidadão falando sozinho e continua na festa. Bebendo, rindo num tom que beira o nervosismo e observando quais as possibilidades na sua nova vida noturna.

Já é quase dia e seus pés doem incessantemente. Todo mundo bêbado e feliz (ou pelo menos se achando). Você bebeu um ou dois copos de vinho e está sóbria. E, mesmo que tivesse se embriagado, sabe que iria pra sua casa dormir e acordar sóbria e com uma puta dor de cabeça. E tudo voltaria ao normal. Mas você nem curte beber assim. É hora de partir e você entra no seu carro. Aquele pedacinho de poucos metros quadrados se transforma no maior espaço do mundo. E você, na menor pessoa do mundo. É tanto espaço sobrando. Você gostaria de não saber o que está faltando, mas você sabe muito bem. Você chora. Compulsivamente. E começa a imaginar, então, como vai ser sua vida daí pra frente. Com perspectivas nada animadoras. Você precisa de você de volta. Com urgência. Precisa preencher aquele espaço e o espaço da sua vida. Porque, daqui pra frente, você será sua melhor companhia.