31 março 2006

IDIOTA X IDIOTA


Por mais que você deteste rótulos e que jamais tenha pensado em classificar os homens da sua vida em diferentes categorias, no final das contas, vai chegar a uma simples - porém reveladora - conclusão. Existem dois tipos de idiota: o idiota propriamente dito e o idiota que pensa que você é a idiota.

O idiota propriamente dito é aquele cara que te engana descaradamente. Que some e aparece depois, na maior cara de pau. Não te faz promessas. Deixa bem claro que prefere sair para beber com os amigos a ir com você ao cinema. Ele se embriaga no final de semana, dorme e se esquece de encontrar com você. Ele te mata de ódio. Mas, de uma coisa, você nunca poderá reclamar. Ele nunca te enganou. Ele não é nada cavalheiro. Do tipo que você abre a porta do elevador e ele entra. Nunca vai te mandar flores. O maior elogio que você vai ouvir dele soa como “você é gostosa pra caralho”. É um completo idiota. Mas, também, completamente inofensivo.

Perigoso mesmo é aquele segundo tipo. O que pensa que a idiota é você. Com esse, todo cuidado é pouco. Ele quer, a todo momento, te impressionar. Ele não conta vantagens, mas isso fica implícito em cada frase que sai da boca dele. Ele não diz pra você que é rico, mas se apressa em contar onde mora (claro, no bairro mais nobre da cidade).

É do tipo que abre a porta do carro (importado!) pra você e a leva para lugares bacanas. Ele te elogia da cabeça aos pés. Sabe como agradar uma mulher. Ele vai te ligar “só pra ouvir a sua voz” (apesar de você achar isso super manjado). Vai fingir que tem ciúmes de você na segunda vez que vocês estiverem saindo. Tudo estratégico. Só pra você pensar que ele está emocionalmente envolvido.

Ele vai te ligar sexta-feira pra dizer que está com saudade, mas... ops! Sexta-feira é o dia oficial em que ele fica doente! E sábado geralmente morre alguém da família. Pobrezinho. Tão azarado. Ele gostaria tanto de estar com você, sente tanta saudade, mas, todo final de semana, tem um contratempo.

Ele vai dizer que você é a pessoa mais especial que ele já conheceu nos últimos tempos. A mais linda. Ele está apaixonado. Te liga todo dia pra saber como você está. Você, que não nasceu ontem nem nada, finge que acredita nesse tipinho manjado. Já deu os “pêsames” a ele por três sábados consecutivos nos quais a mãe dele morreu. Você faz voz de triste e deseja melhoras quando ele te liga às sextas “doente” (e depois, parte pra gandaia, claro).

Esse tipinho tem a melhor lábia do mundo. Se diz seletivo com as mulheres (mas diz isso pra todas). Diz que você é única (também diz isso pra todas). Ele poderia, realmente, ser tudo de bom. Tem lá suas qualidades. Geralmente é gato, sarado, rico, mora bem, tem carro do ano, inteligente, culto e bem relacionado. O único problema dele é achar que é mais esperto que você. Achar que você é uma idiota que acredita em tudo que ele fala. Não mesmo. Você finge que acredita e ainda faz ele se sentir o máximo (o máximo do trouxa, só se for!). Você dá corda e ele mesmo acaba se enforcando.

Mentira tem perna curta, já dizia minha avó. (A avó dele provavelmente morreu num sábado desses antes de poder contar isso pra ele).

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P.S.: Este texto é uma obra de ficção. No entanto, qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera coincidência.

26 março 2006


Você acorda às 4h da manhã de terça-feira com fortes dores no estômago. Finge que não é com você, afinal, de nada adiantaria levantar pra pedir socorro pra... pra quem mesmo? Ah, é! Você mora sozinha.

Então você continua deitada mentalizando mantras cabalísticos que te dizem que você está bem. De repente, você começa a suar frio. Joga o lençol pro lado. Você deseja que a Cabala e a Madonna sumam da face da Terra. Você se vira para um lado... para o outro e nada da dor passar.

Então, você resolve se levantar e ver o que pode fazer por si mesma. A dor piora. Sim, mas você precisa se levantar e procurar algum remédio que seja. Se apóia no corrimão pra descer as escadas até a cozinha. Pega um copo d’água e começa a revirar sua caixinha de remédios. Neosaldina... Dorflex... Nebacetin... Dexafenicol... pomada pra picada de abelha... Você lê todas as bulas deitada no chão da cozinha. Nada parece servir para essa dor infernal que você ainda não sabe definir o que é. Nem exatamente onde. Enfim, um Sonrisal. Tá escrito na bula que é para má digestão. Má digestão... estômago... tudo a ver. Vai isso mesmo! Você toma o milagroso. Mas, após o último gole naquela água branca, você constata que a data de vencimento vai fazer aniversário de dois anos.

Então, você volta e deita na sua cama que está mais quente que o chão da cozinha. Começa a xingar o fabricante da Quinua Real que você comeu algumas horas antes de se deitar. Só pode ter sido isso que te fez mal! Também, com um nome desses, não poderia acabar em boa coisa.

Mais uma vez, então, às 4h40 da manhã, no auge do desespero, você tem a fatídica e infeliz idéia de passar uma mensagem pro celular do seu ex-namorado pra ver se o cidadão se comove e resolve te ajudar. Você simplesmente ignora o fato de que, além de ser seu EX- namorado (muita atenção para o prefixo), ele talvez esteja no meio de um amasso com uma baranga qualquer àquela hora. Mas você mora sozinha e não consegue imaginar quem poderia ser a boa alma que te ajudaria às 4h40 da manhã.

Ainda deitada e suando de dor, você começa a lembrar que, se continuar acordada, o dia vai clarear e você não vai ter dormido nada. E começa a mentalizar canções de ninar porque, afinal, você precisa trabalhar daqui a algumas horas.

O Sonrisal vencido começa a te lembrar que você não deveria tê-lo tomado. Alguma coisa que está dentro de você começa a se revirar e a dar sinais de que precisa sair (não se sabe ainda se por cima ou por baixo). O fato é que a dor não passa.

Você chora de dor. Na verdade, chora de dor misturada com a constatação de que você é um ser frágil e não tem ninguém terça-feira às 5h da manhã. Então, você resolve pegar seu caderninho e sua caneta (o computador está longe demais pra ir andando) e começa a escrever seu drama afim de que ele vire assunto no blog depois. Seria cômico se não fosse trágico.

São 5h30 da manhã e você constata a incompetência do seu ex-namorado. Ou, talvez, ele tenha começado a sofrer de surdez depois que vocês terminaram e ele não ouviu a mensagem apitar no celular. Nada disso. Triste e cruel constatação: é você que é uma sem-noção e não tem nada que amolar as pessoas com seus problemas. Ainda mais quando as pessoas não estão mais na sua vida (ou estão, quando lhes convém).

MORAL DA HISTÓRIA:
Você é uma incompetente que ainda não aprendeu que quem mora sozinha não pode passar mal de madrugada. Continue deitada e, se a coisa agravar, chame os bombeiros. Quem sabe, Deus resolve te recompensar e mandar um bombeiro sarado. Comece a rezar logo.

23 março 2006


Dizem que amigos são os irmãos que a gente escolheu. Pois bem. Tive a sorte de ser escolhida pela melhor amiga do mundo. Por aquela que sempre esteve do meu lado nas horas que eu mais precisei dela (e olha que não foram poucas!). Aquela praga (!!!) que já me viu de cara inchada, maquiagem borrada por chorar no meio da noite. Aquela figura, cujo joelho eu apertei tanto que ficou roxo (foi mal, amiga!). Essa “amiga-irmã” que eu ganhei por puro acaso, se é que existe mesmo esse tal de acaso.

Gissa é essa peça... que se irrita quando erram seu nome... só quando erram seu nome. Nunca vejo Gissa irritada com mais nada. Amiga do sorriso fácil. Do coração difícil. Da amizade à distância... 310km de distância.

Amiga pra vida toda. Pra toda hora. Pra toda festa. Pra todos os vinhos baratos no parque de exposição. Pra toda manhã voltando da noite que ainda não tinha acabado. Pra toda praia com homem sarado. Pra todas as vezes que a gente se livrou das marmotas (ôxi!!!) Pra todos os pés-na-bunda que eu tomei e pra todas as vezes que meu coração disparou. Essa peste já me viu chegar em casa às 4h da manhã, toda molhada de chuva e as canelas cheias de barro. Foi minha cúmplice quando saí de casa às 2h da manhã com a chave do carro na calcinha e a sandália na mão. E ela ria compulsivamente. Mais por estar nervosa do que por qualquer outra coisa.

Mas a gente se entende. Nossa amizade ultrapassa a barreira da distância e a barreira do tempo. Ultrapassa todos aqueles malas que entraram nas nossas vidas e nos fizeram menos felizes (isso é o que eles pensam! Hahaha). Nossa amizade sobreviveu aos nossos desentendimentos e se tornou mais forte.

Amiga, parabéns por completar 23 anos dando alegria pra gente (ficou meio baranga a frase, mas resolvi deixar mesmo assim). Espero que consiga me agüentar por mais uns 50 anos ainda. Ou mais.

Te amo, sua peste!
Vê se te cuida e vai esticar o pixaim porque hoje é o seu dia!
Beijos

19 março 2006

AQUELE IDIOTA


Ele é o cara perfeito pra você. Lindo, loiro e sarado. Mais velho. Rico. Do tipo que manda flores. Um gentleman. Tudo que você faz, ele acha lindo. Ele gosta do cheiro da sua pele (mesmo que você tenha acabado de sair da academia!). Do seu cabelo. Ele compra seu chocolate favorito e leva pra você quarta-feira à noite quando você está deprimida em casa. Ele deixa de assistir o time dele jogar pra ir com você àquela festa da sua tia-avó mais chata. Ele cuida de você quando está doente e ainda diz que você está linda mesmo assim. Ele é o genro que sua mãe pediu a Deus. E o cara pra quem você disse adeus.

Você quer mesmo é aquele mala. Aquele idiota que te faz sofrer. Aquele infeliz que racha conta de três reais com você. Aquela anta paralítica que não tem dinheiro pra colocar gasolina no próprio carro. Aquele ser desprezível que diz que vai te ligar e some. Some. Só aparece na segunda-feira. Isso mesmo. Segunda-feira, dia oficial de ligar pras pessoas de quem nos lembramos quando não temos mais nada pra fazer.

Aquele. Ele mesmo. Que desmarca o cinema com você vinte minutos antes da sessão pra ir jogar bola com os amigos. Que se embriaga nas festas e quer voltar dirigindo pra casa. Que nunca tem dinheiro pra viajar com você, mas que sempre arruma grana pra cerveja e pra coisas de suma importância na vida dele - como despencar de BH no Rio de Janeiro para assistir ao show dos Rolling Stones e voltar no dia seguinte.

Não precisa ser nenhum gênio, nem muito menos a Mãe Dinah, pra saber que o problema é você. A mala, a idiota, a infeliz, a anta paralítica, o ser desprezível é você. É você que sofre de problemas mentais sérios. Que acredita no amor impossível. Nas love-stories. Na paixão que te tira o fôlego e te deixa no chão. Que acredita em tudo isso só porque, quando vocês estão juntos, o mundo parece que pára. E alguma coisa te diz que vocês dois são o melhor plano já feito. E você sente que é imortal. E que tudo é pra sempre. E você confia mais nele do que nos seus próprios sentimentos. E, quando está com ele, você gostaria que cada segundo durasse pra sempre. Que as noites não tivessem fim. Você se sente viva. E trocaria a eternidade por aquele momento. Pelas tardes sem fazer nada juntos. E vocês se comunicam sem palavras. E você é capaz de dizer o que ele está pensando só de olhar pra ele.

E você ainda acredita no amor porque ele te olha nos olhos de um jeito que sua respiração pára por um segundo. E seu coração ainda dispara quando aquela voz linda diz “alô” do outro lado da linha. E ele te liga no final do dia só pra dizer que te ama e que está com saudades, mesmo que tenham passado a tarde juntos. E tudo isso parece tão simples. E ele parece tão seu.

Ele mesmo... aquele idiota...

14 março 2006

SOZINHA

Morar sozinha é um eterno exercício de conviver com a falta das coisas. Falta comida na geladeira, falta Veja Multiuso, falta Perfex e falta gelo no congelador. Faltam coisas que a gente, simplesmente, esquece de comprar. Só que, tem dias, como as tardes de domingo, que faltam muito mais coisas do que essas que a gente simplesmente esquece de comprar. Falta a conversa com a melhor amiga de infância que não está aqui mais, falta o colo da mãe, falta o pai instalando fios pela casa e consertando o DVD, falta a briga com o irmão mais novo, falta o conselho do irmão mais velho, falta o assovio estridente do Coração na varanda, falta a Quita e o Coração brigando e se bicando depois, falta o carinho do namorado (!!!), falta aquele filme tosco com edredom no sofá da sala.

Quem mora sozinha, às vezes, se sente a pessoa mais triste do mundo. Mas não é tristeza. É só saudade. Como já disse Martha Medeiros, “saudade é (...) não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche” e eu digo mais. É não saber o que fazer com as tardes de domingo que nunca terminam. As tardes de domingo, quando cada um está na sua casa, com sua família, com seu namorado e, você está na sua casa, com sua TV e seu DVD (pirata) da Grande Família.

Morar sozinha é nunca ter almoço em casa. Ninguém cozinha pra uma pessoa só. Guardar o resto da comida? Nem pensar. Duraria uma eternidade na geladeira. Quem mora sozinha não pode ter nunca a geladeira cheia. Tudo estraga. Experiente comprar um queijo Minas, por exemplo. E a penca de bananas? De cada doze, você come duas e o resto joga fora. Preta.

Morar sozinha é almoçar sábado e domingo no self-service. É ligar, às duas da tarde, para a amiga que está almoçando com os pais no Porcão, e para uma outra, que está com o namorado na pizzaria da esquina da sua casa. E você, comendo arroz integral no self-service. É ter que fazer supermercado no sábado à noite e dar aquela “ajeitada” na casa que está de cabeça pra baixo e você não faz a mínima idéia de quem bagunçou aquilo tudo! É levar a roupa pra lavanderia segunda-feira meia noite.

É voltar pra casa sozinha, chorando, depois de terem roubado o som do seu carro às duas da manhã num bairro que fica a quase meia hora da sua casa. Chorar sentada na beirada da cama, deitar e dormir. É acordar todo dia e ficar feliz porque seu passarinho faz festa pra você, porque ele vem correndo quando você chega do trabalho e quer ficar do seu lado.

Viver sozinha é aprender a dar valor às coisas simples da vida: o cheiro de quem a gente gosta, a conversa jogada fora, a crise de riso (por um motivo que nenhuma outra pessoa no mundo acharia graça), o abraço de quem não volta mais, a tarde na beira da piscina, os pés embolados debaixo do edredom, o socorro à 1h30 da manhã de terça-feira quando você não tinha forças nem pra se levantar. Morar sozinha é aprender a conviver com sua própria companhia e ter que gostar dela. Mesmo quando ela está triste nas tardes de domingo.

10 março 2006

PROZAC


Eu prometi pra mim mesma aqui neste blog que não iria postar nada mais sobre “assuntos do coração”, que eu iria dar um tempo, mas não tem jeito. Eu nunca fui muito boa com promessas mesmo. E nunca me dei bem com regras, nem quando tento criar regras pra mim mesma. Essa coisa de padrão de comportamento, padrão de beleza, padrão disso e daquilo só serve pra frustrar aqueles que não se encaixam nos tais “padrões”.

Quem teve a infame idéia de determinar o que é certo pra vida das pessoas como se todo mundo tivesse que ser igual? “Tias velhas” que te perguntam toda semana porque você não tem um namorado sem cogitar a hipótese de que você não está namorando porque não aceita qualquer coisa e não vai pegar o primeiro “mala” que aparecer na sua frente com promessas idiotas. Quem foi que inventou que a gente tem uma idade pra casar? E que tem alguma coisa errada com a pessoa porque ela se aproxima dos 30 anos e não se casou ainda. Quem é o fiscal do tempo? Por que alguém não pode se casar com 40 anos? Acho estranho como as pessoas têm essa mania incontrolável de querer fiscalizar a vida das outras, ditando regras e criando padrões.

O resultado disso? Pessoas frustradas. Todas. Pessoas que fazem o que querem, mas se perguntam se deveriam fazer como manda a regra. Pessoas que seguem as regras, mas percebem que, no fundo, deveriam fazer o que elas realmente gostariam de fazer. Casamentos frustrados. Mulheres que se casam antes que fiquem “velhas demais” pra se casar. Homens que se casam porque empurraram um namoro com a barriga por sete anos (e agora a barriga está tão grande que ele se vê lerdo, prostrado diante da TV assistindo Faustão domingo à tarde enquanto a namorada passa creme de pepino na cara e faz chapinha no cabelo).

Você tem que ter 1,80m, pesar 50 quilos, ser loira, linda e difícil. Tomar a iniciativa? Jamais. Ter 31 anos e namorar um bonitão de 19? Tá louca! A menos que você seja a Ivete Sangalo... e mesmo assim, vai ter que agüentar as capas de jornais e revistas de todo o país divulgando o “mico”.

Namore caras mais velhos, ricos e independentes. Case-se antes dos 30. Seja linda. Independente. Ganhe bem - mesmo que todo seu dinheiro seja torrado em bolsas Louis Vuitton e sapatos Prada. Tenha um cachorro de bolsa. Sorria quando quiser chorar. Tome remédios pra dormir. Tenha o Prozac como seu melhor amigo. E, se sobreviver a tudo isso, me conte depois. Vou querer estar aqui pra saber.